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O discurso de Lula e os desafios da Segurança Pública no Brasil

Por Marco Speziali
Nesta quinta-feira, 20 de fevereiro, durante uma entrevista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe à tona a discussão sobre a segurança pública no Brasil ao defender a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) voltada para o tema. O chefe do Executivo destacou a preocupação com o avanço do crime organizado nas grandes cidades, reconhecendo a necessidade de uma abordagem mais colaborativa entre o governo federal e os estados.
Lula enfatizou a importância de um manejo cauteloso em relação às favelas, afirmando que “qualquer medida que a gente tomar, nós temos que tomar cuidado, porque a gente não pode entrar na favela só para matar as pessoas. O tiro é a última coisa que tem que fazer”. Essa declaração reflete uma mudança de paradigmas na abordagem estatal para o enfrentamento da violência, uma vez que muitos especialistas em segurança pública têm criticado a violência policial e o uso excessivo da força em áreas vulneráveis.
O sociólogo e especialista em segurança pública, José Vicente da Silva, destaca a relevância do discurso do presidente. “A escolha por uma estratégia mais alinhada com políticas públicas de prevenção e inclusão social é um passo fundamental para desarticular a lógica da criminalidade. A segurança não pode ser tratada apenas como um problema de combate à violência; ela deve incluir uma visão de direitos humanos, assim como investimento em educação e saúde nas comunidades”, afirma.
Por outro lado, a defesa da PEC da Segurança Pública pode ser vista como uma resposta aos crescentes índices de criminalidade. A especialista em políticas públicas, Maria Clara Santos, ressalta que “é essencial que a proposta contemple ações efetivas, que integrem segurança com desenvolvimento social. Apenas aumentar a repressão policial não resolverá o problema da violência. Precisamos de um planejamento estratégico que inclua inserção social”.
Em contraponto a essa visão, alguns críticos alertam que o governo deve ser cauteloso para não incorrer nos mesmos erros do passado, onde o foco na força bruta resultou em mais mortes e na estigmatização de comunidades. O acadêmico e pesquisador em segurança urbana, Carlos Henrique Almeida, argumenta: “As operações policiais nas favelas frequentemente geram mais violência do que solução. É preciso repensar a maneira como o Estado se relaciona com as comunidades, privilegiando o diálogo e a construção de confiança mútua”.
O tema da Garantia de Lei e Ordem (GLO) também foi abordado. Lula descartou a possibilidade de utilizar a GLO nos estados, uma decisão que, segundo analistas, pode indicar uma tentativa de evitar a militarização da segurança pública e abrir espaço para soluções mais pacíficas e eficazes.
Diante do contexto apresentado, o desafio permanece: como equilibrar a necessidade urgente de segurança com a promoção de direitos e dignidade nas comunidades mais afetadas pela violência? As falas de Lula podem ser vistos como um indicativo de uma nova estratégia, embora a verdadeira mudança dependa da implementação de políticas que façam juntá-las na prática e não apenas no discurso.
Neste cenário complexo, a colaboração entre o governo federal e os estados, aliada a um diálogo aberto com a sociedade civil e a comunidade acadêmica, será fundamental para construir um futuro mais seguro e justo para todos os brasileiros. A resposta aos problemas de segurança exige não apenas medidas imediatas, mas um compromisso a longo prazo com a transformação social.
Por Marco Speziali